quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Sakura Ai

SAKURA AI

Eu era um sapo.

Não, não estou de brincadeira.

Eu era mesmo um sapo.

Um sapo com direito a pele esverdeada, gosmenta e escorregadia, cheia de verrugas.

Caminhei durante tempo indeterminado por uma estrada em que só podia pisar nas pedras azuis e não nas vermelhas. Não era algo que alguém tivesse me dito, no entanto, era algo que eu apenas sentia que deveria ser feito. Meus pés com dedos ligados por membranas deixavam uma trilha de muco por onde passavam.

O mundo era branco, exceto pela estrada de pedras azuis e vermelhas. A cada gosmento passo dado, ele parecia pintar a si mesmo, formando uma paisagem rústica, selvagem. Quando estava apoiado em apenas um pé, uma planta carnívora pulou (literalmente, pois possuía patas de canguru no lugar de raízes) pra fora de uma poça de tinta formada pelo pincel que desenhava o lugar e me engoliu.

Fui jogado no meio do Universo e pude ver explosões de milhares de estrelas que haviam existido e morrido para o nada. Flutuei por segundos ou horas, não fazia diferença. A propósito, eu ainda era um sapo. Queria gritar, mas a única coisa que consegui foi encher de ar aquela pele elástica e nojenta que anfíbios saltadores como eu sempre tem no pescoço. Decidi ficar em silêncio depois disso.

Flutuar estava realmente tedioso e as explosões constantes das estrelas não me assustavam mais: nenhuma delas me faria mal.

Como se tivesse expressado verbalmente minha insatisfação, o som de algo se partindo pode ser ouvido. Olhei para trás e vi que o tal Universo era apenas uma grande pintura de vidro e alguém lhe acertara com uma marreta. Pedaço por pedaço, mais rápido do que eu gostaria, as lascas cortantes caíam em espiral, juntamente comigo, como se tivessem dado a descarga. E eu ainda era um sapo.

Caí de cara no chão. Dolorosamente real para um sonho comum.

Pensei que daquela vez o meu nariz estava fodido, mas então lembrei que os sapos não quebram o nariz e isso me deixou um pouco feliz.

Levantando, olhei ao meu redor e vi aquilo que parecia ser um santuário. Havia uma garota de pele morena com cabelos negros que pareciam ser quase do seu tamanho no meio dele. Usava um quimono branco e flutuava meio metro acima do chão com braços e pernas abertos em posição “estrela-do-mar”. Senti um arrepio ao vê-la.

— Sapinho? Ei, sapinho! — disse uma voz brincalhona atrás de mim.

Ao me virar, notei estranho indivíduo sentado nas raízes de uma árvore cinzenta e morta. Não me aproximei dele.

“O que você quer?”, ia dizer, mas então tornei a fechar a boca, lembrando daquele estranho movimento que fazia minha garganta inchar.

— Dezenove é o número, velhinho! — continuou a coisa encolhida e risonha — O bom SK já dizia, não é mesmo? Um carro bate. Ele faz KA-BLAM ou seria esse o som de uma bala disparada? A garota, a garota, a garota, a garota, A GAROTA, sapinho! Dê seu sangue para a garota, só você pode salvá-la...

Então, a criatura saltou das sombras como aquela planta carnívora e eu recuei, apavorado. Tratava-se de uma mulher com as pernas amputadas um pouco antes dos joelhos. Sangue pingava dos cortes infeccionados. Ela me deu um sorriso e pude reconhecer seu rosto através dos chumaços loiros de seu cabelo.

Mana? É você?”

Vestia-se como uma boba da corte. Parecia feliz, pois gargalhou em dado momento (talvez antes ou depois de eu ter caído com o traseiro no chão feito um mongol).

Ela disse alguma coisa, mas essa parte foi cortada radicalmente de minha memória. Na verdade, o que lhe conto agora são fragmentos. Curtos trechos de uma alucinação confusa. Talvez aquela batida com a cabeça na calçada tivesse, afinal, surtido efeito.

O momento do qual me lembro se passa depois dela ter cortado o próprio pescoço e morrido a gargalhar no próprio sangue. Lembro que vi

(BALANÇOS CANTANTES! SIM, BALANÇOOOOS CANTANTES, MEU RAPAZ!)

cada gota vermelha ser sugada para dentro da terra por flores cinzentas que pareciam vagamente com aspiradores de pó. Aspiradores de pó do mal. Depois de beberem o sangue da minha irmã elas se enrijeceram como alguém que acaba de acordar e ao relaxarem ganharam uma bela tonalidade de rosa.

Sakuras?

Pareciam muito com sakuras.

Um vento começou a soprar suavemente quando tentei me abaixar para colher uma das flores. Minha mão verde foi impedida por um sussurro sem som. Um sussurro desses que às vezes fala dentro da gente, sem que saibamos muito bem como.

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O rosa do SA-KU-RA

É do sangue de SA-RA...

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Minha mão ricocheteou nesse segundo e aterrorizado com aquilo que lembrava em muito uma canção perversa cantada na quarta série por meus colegas de classe não-tão-adorados-assim, corri para o templo sombrio.

A garota de quimono branco continuava flutuando meio metro acima do chão. Aproximei-me hesitante e tive consciência de uma coisa: Nunca, na vida, tivera o vislumbre de garota tão bonita quanto aquela. Sua pele contrastava com a ausência de cor de sua vestimenta e os cabelos escuros pairando ao redor de seu corpo se moviam lentamente da mesma forma que a maré branda. Desejei tocá-la, mesmo que por breve período de tempo.

Mas como algo me impedia, o destino conspirou (ou talvez fosse apenas meu inconsciente), mais uma vez e logo me via agarrado pelo punho ossudo da garota. Ela virou seus olhos vidrados para mim e sussurrou num fio de voz:

— Estou com fome.

Ia lhe dizer para esperar que logo eu voltaria com alguma comida (apesar de não fazer a menor ideia de onde poderia arranjá-la, na verdade queria apenas, desesperadamente, agradá-la), mas antes mesmo que pudesse me recordar que não poderia falar absolutamente nada, suas mãos me apertaram mais e nossos lábios quase se coloram com sua aproximação repentina.

— Tudo bem — continuou olhando no fundo dos meus olhos. Seus próprios orbes eram tão escuros que mal se via as pupilas — Seu coração deve servir. Posso comer seu coração, sapinho?

Assenti.

Lembro de senti-la pousar as mãos espalmadas em meu peito verde e então seus dedos suaves se enterravam na minha pele, rasgando-a, arrebentando músculos, vasos sanguíneos, pulmões e então... ela tornou a fechar meu tronco e levou as mãos aos lábios, trêmula. Tudo aconteceu em poucos segundos.

— O sapinho não tem um coração. — disse sem ar.

Ela se afastou e...

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BRANCO

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BRANCO

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BRANCO

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DOMINÓ

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BRANCO

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BRANCO

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BRANCO

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— O que você está fazendo aí?

Eu abri os olhos. Primeiro, via apenas coisas rosas balançando no ar. Depois, minha visão foi se adaptando com a claridade do lugar e percebi que se tratavam de flores. Quando sentei, reparei que haviam mais flores como aquelas espalhadas pelo chão (Sakura?)

Ah, sim, também reparei que não era mais um sapo.

Agora eu era apenas eu, usando um macacão jeans e uma camisa de manga comprida cinza que, estranhamente, parecia uma versão adolescente de uma roupa que usava quando bebê.

— Ei, garoto! — tornou a dizer a voz.

Sua dona era a tal menina que tentara devorar meu coração.

Os olhos dela não mais estavam vidrados e seu quimono branco agora era enfeitado por vários desenhos de sakuras...

Ela deve ter perguntado algo sobre eu ser mudo, pois respondi (respondi mesmo?) que “não, estou apenas perdido”. Presenteou-me com o sorriso mais gentil do mundo e se aproximou correndo suavemente, os pés pequenos, nus, esmagando pétalas pelo caminho enquanto o cabelo esvoaçava atrás de si.

Desejei imensamente abraçá-la.

— Achei seu coração! — exclamava alegre, mostrando para mim um pequeno buquê feito de (ÁS DE ESPADAS RISONHO) sakuras. — Achei-o dentro do armário e era tão bonito que pensei em comê-lo, mas aí resolvi dá-lo pra você! Pegue!

Limitei-me a balançar a cabeça para os lados, estendendo sim a mão, porém apenas para tocar em seu belo rosto moreno.

— Pode ficar pra você.

— Jura?

— Sim.

Ela riu envergonhada e então se aproximou repentinamente como na primeira vez, depositando um beijo simples na minha bochecha.

— Obrigado, menino bonito! — agradeceu enquanto corria pra longe de mim, agarrada ao pequeno buquê como se sua vida dependesse dele.

Demorei alguns instantes para perceber que ela estava indo embora e que provavelmente eu nunca mais a veria se deixasse tal acontecer. Reunindo toda a força que tinha, comecei a correr, desesperado para que o velho machucado na minha perna esquerda, fruto de um tombo na escada, não começasse a doer de repente.

A garota era rápida. Os sakuras não paravam de cair das árvores enquanto nossa perseguição prosseguia. Eu desejava ter novamente minhas pernas de sapo para, quem sabe, pular atrás dela e finalmente detê-la.

Estava sendo deixado para trás.

Cada vez mais... mais longe.

Caí, os músculos da maldita perna esquerda parecendo serem comprimidos um contra o outro: câimbra. Câimbra dos infernos, pra ser sincero.

Esperei durante uma eternidade, os olhos fechados (e os sakuras pulsando em seu tom magnífico de rosa por detrás das pálpebras), aguardando que a dor passasse.

— Já cansou? — sobressaltei-me ao notar a menina debruçada sobre mim, alguns de seus cabelos escuros e macios roçando em meu rosto. Estava na direção oposta que eu.

— Acho que sim.

Ela tocou a ponta do meu nariz e sussurrou:

— Não faz mal, podemos brincar amanhã!

— Estou crescidinho demais pra brincar — resmunguei tendo certeza que ele não era muito diferente da maioria dos indivíduos de gênero feminino que eu havia conhecido ao longo da vida: estranha, enganadora e infantil.

— Ah, você é tão reclamão, senpai!

Franzi a testa: tinha certeza que já ouvira aquele apelido uma vez... Mas onde? Quem me chamava daquele jeito?

Com a mente divagando sobre aquela questão, nem percebi quando seus lábios pousaram sobre os meus da mesma forma a brisa esbarra de vez em quando na pele. Tive a impressão que o mundo girava num turbilhão de pétalas rosadas e então a verdade me atingiu, um peteleco na orelha que despertou minha consciência:

Aquilo era apenas um sonho.

Deve existir alguma regra específica para isso (ou não), mas acredito que você não pode permanecer quando descobre que tudo aquilo que está vivendo não é de verdade. Algum mecanismo se ativa, como se você tivesse ultrapassado o limite aceitável. É quase o que acontece com os suicidas: eles descobrem que vivem uma grande mentira e aí resolvem acabar com tudo. Não é nada mais do que isso.

“Desculpe amigo, acaba de ser barrado desse sonho”, dizem, antes de te jogarem na sua cama e você levantar ofegante, procurando por todo o quarto (que por pouco não está um verdadeiro breu) pelo caderno e caneta que vão te salvar.

Então — sem os óculos, você não tem tempo, os sonhos desaparecem em menos de 3 minutos da nossa cabeça, portanto mesmo que você esteja enxergando tão bem quanto uma toupeira vai ter que continuar — começa a escrever. Escrever furiosamente, tão rápido que quase rasga a folha enquanto as palavras se formam, garrancho por garrancho.

Não escrevia frases complexas, apenas simples palavras-chaves que depois conseguiria ligar ou menos tentar fazê-lo.

“Sapo, caminho, universo, vidro, caco, dominó, grito, cair, cair, cair, garota, irmã, dezenove, Stephen King, rosa, sakura, sangue, degolar, beijo, sakura, olhos, quimono, correr, correr, correr, beijo, sakura, dor, muita dor, SAKURA...”

Bem, foi mais ou menos isso. Claro, haviam outras coisas sem sentido, do tipo “balanço cantante” ou então “ás de espadas risonho”, mas não compreendia muito bem o que elas faziam ali.

— O que você está fazendo aí?

Sobressaltei-me ao sentir uma mão macia pousar em meu braço e demorou para que percebesse que não estava mais sonhando, pois o indivíduo atrás de mim era idêntico a garota de quimono, mesmo que as trevas do cômodo borrassem um pouco suas feições.

— Acabei de ter um sonho muito maluco.

— Um pesadelo?

— Eu não sei. — se não podemos dizer qual pessoa é boa ou má, como fazer tal com os sonhos? Os sonhos dependem das pessoas para existirem e as pessoas são boas e más ao mesmo tempo...

— São cinco e meia da manhã.

— Sério?

— Que horas você foi dormir?

— Quatro horas.

— Meu Deus, você precisa ir ao médico dar um jeito nessa insônia!

— É, tá bem — um breve suspiro se fez ouvir: tinha toda a certeza do mundo que eu não iria ao médico nem que me arrastassem.

— Deita mais um pouco.

— Pra quê? Vamos ter de levantar daqui a pouco mesmo!

— Eu não quero levantar agora, ainda está escuro!

— Horário de verão, né?

Seu braço me envolveu pela cintura e ele tornou a deitar, pressionando o peito contra minhas costas. Resolvi deixar o caderno próximo ao pé da cama.

— Só mais uns minutinhos, por favor!

— Você é tão chorão que nem tem como negar.

Deitando de lado, senti o aperto em torno de meu corpo aumentar e a respiração quente roçava em minha nuca com suavidade.

— Ei, espera! — falei com um tom meio urgente.

Ele rapidamente se sentou, ligando o abajur.

— O que foi?

Juntei nossos lábios por alguns segundos e em seguida, com um sorriso no rosto, tornei a deitar. Ele me acompanhou, encaixando suas pernas nas minhas.

— Agora sim.

Antes de tentar descansar mais um pouco, meus olhos bateram em algo caído no chão e me inclinei na sua direção, tentando descobrir do que se tratava mesmo que sem os óculos a coisa não passasse de um borrão.

— Amor? — um dedo deslizou por meu maxilar: sinal de preocupação.

— Não é nada. Vamos! — desliguei o abajur e tornei a puxá-lo para mim.

Nas trevas, o borrão sumiu.

Ele era rosa.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Caótico

Tio Sara escrevendo poema?? É o fim do mundo mesmo... XD

Mas acontece de vez em quando né?

//

CAÓTICO

Arrasto-me pela escuridão pontiaguda, cortante

Rezando para o deus que meu ateísmo prega

Salvar-me dos monstros de fumaça e vidro que me perseguem.

*

Tão pegajosas são essas trevas esverdeadas

Grudando nas pontas de meus dedos metálicos

Como o catarro que escorre do nariz das retardadas crias humanas.

*

Escuto o silvo urgente de algum demônio bom

Que finalmente encontrou o fim com gosto de chocolate

Nos quentes braços daquela moça de lábios que me atraem.

Aquela, você sabe! Cujo nome termina com “e”...

*

A voz espectral de um velho amigo que partiu (ou retornou?)

Enrosca-se em meu cérebro como uma píton

Sibilando em minha frágil sanidade.

*

Como é doce o sangue que desce pelas pernas roliças

Das moças de boa índole que abortaram sementes indesejadas

Para assim permanecerem como as "queridinhas do papai"...

*

E você, verme macilento como aqueles que se banqueteiam de cadáveres,

Ainda tão jovem já busca prazer no colo das rameiras

E como o Édipo Contrário que é, goza com a ajuda de pensamentos sujos.

Mas os atos de sodomia que você imagina não se concretizaram, não é?

*

Grite um pouco mais, meu querido e fútil Dorian,

Pois gosto dos urros animalescos dos Homo sapiens que torturo

Antes de mandá-los para aquele abatedouro com cheiro de rosas.

*

Na Lua Nova avisto um lunático uivante,

Um esquizofrênico imundo que rola pelo chão de pedra e hóstia

Latindo para predadores invisíveis.

*

Nos céus de fogo, anjos caídos sobrevoam seu palácio de areia

Sorrindo maléficos, antecipando a queda da Coroa “Faz-de-Conta”

E debaixo da chuva o soberano frustrado é deposto.

“Cortem-lhe a cabeça!”, gritou alguém certa vez e talvez não esteja errado...

*

Humanos choram diamantes e cães trajam seda.

Os assassinos são aplaudidos e as autoridades vivem em constante atuação

[dramática

E devemos deixar a correnteza nos arrastar para alcançar a verdade...

*

Nessa névoa de mentiras magras e loiras

Atiramos no escuro, cegos pela nossa própria filosofia:

Estamos tentando matar a adorável garotinha antes que ela nos cale.

*

Em eras sombrias que nos engolem como buracos negros famintos,

Uma caipira usando saltos de cristal ou rubi bate os calcanhares e

Minha amada Eleonor ressurge das cinzas como fênix malévola.

Pode ouvir? As conchas estão cantarolando e o pobre W.W. sofrendo um

[ataque epilético...

*

Regredindo até o começo do jogo que jamais tivemos chances de ganhar

Contemplo fascinado a Terra Devastada que poderia ser o inferno de Dante,

Mas não passa de um lampejo de pensamento que os deuses às vezes têm em seus

[momentos de ócio.

*

E afundada até a cintura no vômito convulsivo que é expelido de minha boca,

Penso em quantas outras alucinações tão belas terei antes que a vida se acabe e

Aquela enfermeira cujo nome sempre esqueço, traga o veneno

[que me deixa lúcida...

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Love: Sobre Cigarros, Desenhos e Amassos

Por um milagre, essa história aqui é de capítulo único. ^^ Não tenho muito o que falar sobre ela, apenas que o título é bem sugestivo sobre o que rola (ou não rola! hehehe)

História mais água com açúcar que eu já devo ter escrito na vida, até o momento...

-/-/-

Love:

Sobre Cigarros, Desenhos e Amassos

— Você jura?! — ele perguntou fazendo uma cara embasbacada.

— Sim. — respondi sem tirar os olhos do caderno.

Depois de bater algumas vezes com a caneta na folha, finalmente pus-me a fazer um breve esboço. Primeiro, os olhos. Sempre começava com os olhos. Era uma mania estranha, eu sei, mas impossível de largar. Olhos encantadores, com íris completamente negra e longos cílios, tão longos que quando piscava era possível vê-las roçando de forma suave nas bochechas.

— Mas por que você ainda guarda o maço?

— Pra lembrar a mim mesmo de nunca tentar repetir a merda.

— Foi estranho fumar?

— Estranho, não. Foi nauseante, além de parecer tentativa de suicídio: eu sentia que ia sufocar com a fumaça na garganta.

— Quantos você fumou antes de parar?

— Nem cheguei a terminar o primeiro direito.

Um risco leve para simular as pálpebras. Traços curtos e rápidos para as sobrancelhas arqueadas e finas, expressivas.

— Tira isso da boca — ordenei categórico. Poderia estar prestando atenção no desenho, mas sabia que do jeito que ele era poderia tentar uma idiotice do tipo: Abrir o maço e colocar uma daquelas porras na boca, fingindo que estava fumando.

— Ah, deixa de ser chato, eu só estou brincando!

— Coisa de criança. Tira logo!

— Ok, ok! Pronto, já guardei! Tá feliz agora?

— Bastante.

Certo, já havia terminado os olhos. Nunca fui um bom desenhista. Mas pelo menos não poderia me envergonhar daqueles olhos. O resto era que fodia mesmo. Lábios, queixo, bochechas, orelhas... O contorno do próprio rosto. Complicado demais, complexo demais para minha coordenação motora pouco avançada.

Mas pelo menos eu tentaria.

— O que você está fazendo?

Parei de desenhar e mesmo que da cama ele não pudesse ver o conteúdo da folha, pressionei o caderno contra o peito, sentindo muito vergonha.

— Nada! — exclamei nervoso. E se ele quisesse ver o desenho? O que eu faria?

— Ah, para, cara! Eu sei que você está fazendo alguma coisa! Não é escrevendo mais uma das suas histórias mirabolantes é? Voltou a desenhar então?

— “Desenhar”? O que eu faço chama-se “riscar o papel”, não “desenhar”!

Ele bufou revirando os olhos.

— Quantos caras não “riscam papel” e ganham milhões?

— A diferença é que eles têm cara de pau pra chamar aquelas porcarias de arte!

— Você está tentando me enrolar! Anda, passa pra cá! — sua mão foi estendida na minha direção e eu recuei a cadeira de forma que ela ficasse mais próxima do computador; defenderia aquele caderno com a minha vida.

— Nunca!

— Então vou ter de tirar na marra de você, é? Ok!

Estremeci. Ao contrário do que possa imaginar, “tirar na marra” com ele não é me encher de porrada ou coisa parecida, como em qualquer amizade normal de garotos. Oh, não.

Ele levantou e fez questão de rebolar enquanto caminhava até mim, sentando-se nas minhas coxas de forma que nossas virilhas se roçaram suavemente, provocando arrepios em nós dois. Suas mãos macias empurraram um pouco minha cabeça pra trás e com os cotovelos em meus ombros, ele acariciou meus cabelos lentamente.

— Deixa eu ver, amor... Por favorzinho, vai. — sussurrou contra meus lábios

Automaticamente, ofereci-lhe o caderno. Enquanto via-o se ajeitar de lado nas minhas pernas, aquela voz que era meu “eu consciente” gritou, emputecida: “Muito bonito né, seu merda?! Não sabe pensar com a cabeça de cima não?! Parece que só a de baixo funciona, porra!”

Obviamente, mandei aquele meu “eu” ir tomar em “você-sabe-aonde”; poder sentir um dos braços dele envolver meu pescoço enquanto o rosto recostava-se no meu era bom demais pra que eu bancasse o “Cavalheiro de Aço”. Bosta, era um ser humano como qualquer outro, então tinha o direito de sentir o coração falhar e o sangue pulsar mais forte e quente dentro de mim!

— Você só desenhou os olhos?

— Pois é... Não sei como continuar.

— Quem está desenhando?

Tornei a pegar o caderno com uma das mãos (a outra o segurava pela cintura) e dei de ombros, esperando que ele caísse no truque. Mas ele não caiu. Como sempre.

— Não vem com essa não, esperto! Fala pra mim!

Meu olhar por cima da armação dos óculos foi breve, mas ele deve ter entendido, da mesma forma que sempre entendia com um simples gesto coisas que eu estava pensando, pois abriu um grande sorriso e me olhou com aquela cara de “Aiiii!!!! Você é tão fofo, amor!!!!”.

— Não sou fo...! — tentei me antecipar antes que ele verbalizasse aquela frase vergonhosa, mas ele já me agarrava com força, dando beijos estalados pela minha bochecha.

— Você é sim! É o “anti-romântico” mais romântico que eu já conheci!

— Arre, para com isso, porra! Você sabe que eu odeio que me chamem de fofo!

— Estou te irritando do mesmo jeito que você me irrita!

— Ser irritante faz parte da minha personalidade, você sabe muito bem disso!

— Peguei esse costume com você, coração!

“Ai, meu pai...”, pensei completamente fulo da vida. Queria esganá-lo no momento. Eu, fofo?! Só se fosse na...

— Nem é você que eu estou desenhando — falei fechando a cara, assumindo um tom de voz particularmente malvado.

— Então quem é?

— Outro cara.

Pronto. O ar ficou pesado. Já viu Cavaleiros do Zodíaco? Sabe quando os caras começam a elevar o Cosmo? Putz, quando olhei pra cara dele quase podia sentir uma aura maligna ao seu redor. Seus olhos estavam tão cerrados que eu achei que ele fosse juntar as mãos e mandar um kamehameha na minha direção.

Engoli em seco; é, eu acabava de assinar meu atestado de óbito.

— Que “outro cara”, é esse, Jacó?

“Puta que pariu”, pensei. “Chamou pelo segundo nome é porque eu to fodido”.

— Só um personagem, meu amor. — respondi com o tom mais doce que pude, tentando escapar da surra que provavelmente levaria daquele cara quase meio metro mais baixo que eu. — Lembra daquela história que eu disse que estava escrevendo com uma garota?

— Sei — “monossilábico e com cara de quem vai mandar um golpe DGZ ou então um do CDZ. Pronto, definitivamente, eu estou ferrado”, imaginei ao lançar meu último curinga:

— Bom, eu estava desenhando o garoto de quem o meu personagem vai estar a fim.

Seus olhos se iluminaram de repente. A expressão “sou o Jason e hoje será sua Sexta-feira 13” sumiu, dando lugar a um grande sorriso. Por pouco não soltei um suspiro de alívio.

— Aquele garoto que parece comigo?

— Sim, só que você é mais gostoso — disse sem pensar.

— E você é um tarado. — comentou me abraçando mais forte — Total!

— Só um pouquinho.

— Eu quero ler depois.

— Ler o que?

— A história, cacete! Cara, estou começando a ficar preocupado com essa sua memória...

— Sou o primeiro garoto de 15 anos a ter Alzheimer. Entrei pro Guiness semana passada, não ficou sabendo?

— E o que você fez?

— Esqueci que a cabeça ficava presa no pescoço.

Ele deu uma risada daquelas em que jogava a cabeça pra trás e eu sabia significar “meu namorado é um babaca”. Mas não estava nem aí, pois a visão de seu pescoço delicado, o pomo-de-adão subindo e descendo com as gargalhadas me fazia perder a noção do tempo e do espaço. Deve ter notado meu olhar “secando-o”, pois seu rosto moreno escureceu, ruborizando.

— Que foi? — perguntou, sem-graça.

Minha mão subia de sua cintura e depois voltava a descer ao alcançar o meio das costas numa carícia suave. O caderno de repente foi largado de lado no chão, surpreendentemente desinteressante.

— Gosto de olhar pra você.

— Por que?

— Qualquer pessoa gosta de olhar coisas bonitas.

As bochechas dele escureceram mais ainda. Talvez percebendo sua falta de jeito naquela situação, resolveu parar de me encarar e escondeu o rosto no meu pescoço. Sentia sua respiração quente entrar pela gola da minha camisa e com isso apertei-o mais contra meu corpo.

— Você é lindo. Fica mais lindo ainda todo tímido — sussurrei com calma em seu ouvido.

Suas unhas se fincaram com um pouco de força nos meus ombros, mas nem me importei com a dor fina que começava a sentir; afinal, na vida, todos aprendemos que existem diferentes tipos de dores e aquela era do tipo que me mostrava que talvez o amor não fosse algo tão ruim assim...

— Você acha? — o hálito golpeou aquele meu pequeno pedaço de pele desprotegida. Senti que ia desmaiar. Merda! Estava agindo feito um idiota apaixonado de novo! Desse jeito ia perder meu status de “garoto anti-social, insensível e com leve tendência a sociopatia”. Mas era tão, tão impossível não derreter... Ai, merda dupla!

— Sabe por que eu odeio a neve? — disse fingindo ignorar sua pergunta.

— Não.

— Porque ela é branca. Todo mundo sabe que o branco é uma cor cuja essência é o nada. Uma cor fria e morta, literalmente. Por isso prefiro a terra: marrom, quente. Também gosto de chocolate. E de café com leite.

— Você enlouqueceu? Isso não tem sent...

— Gosto mais ainda da sua pele — cortei-o suavemente. — A cor dela é quente. Me deixa quente.

— V-v-v-você a-a-a-acha? — gaguejou em voz baixa. Sentia sua respiração começar a ofegar. Meus dedos se moveram para suas coxas e pude sentir os pelos finos delas completamente arrepiados.

— Sim. Dá quase pra sentir o gosto de chocolate dela...

Ok.

Estava quase rolando um “beijo daqueles”, se é que você me entende! O “Don Juan” que tinha baixado em mim naquela hora ia fazer eu me dar bem, quando de repente ouvi uma voz feminina gritar através das paredes do apartamento e acertar meus ouvidos em cheio:

— I-LÁ-RI-LÁ-RI-Ê! Ô-Ô-Ô! I-LÁ-RI-LÁ-RI-Ê! Ô-Ô-Ô! É A TURMA DA XUXA QUE VEM DANDO SEU ALÔ!

Cara... Xuxa é a coisa mais brochante do planeta, só perde pros Teletubies!

Eu, como um cara muito calmo, apenas pensei: “QUEM É O FILHO DA PUTA PUNHETEIRO QUE ESCUTA A PORRA DA XUXA NOVE DA NOITE NO ÚLTIMO VOLUME?!”

Não me entenda mal, mas se você estivesse prestes a dar uns belos amassos no seu namorado e fosse interrompido pela Xuxa também ficaria bem irritado!

— Calma, cara! — ele disse meio assustado, parecendo ler os meus pensamentos. — Calma, respira fundo.

— Respirar fundo? — falei com um tom de voz baixo, porém que continha algo de mortal. Eu fechei os olhos e cerrei os dentes. — Respirar fundo. Algum veado de merda está atrapalhando minha concentração nesse “momento crítico”, mas você quer que eu respire fundo. Tudo bem, vou respirar fundo e vamos ficar na seca. Pronto! Não é uma ótima ideia?!

— Ah, não, seca não! — ele disse choroso, dando alguns selinhos nos meus lábios, mas eu permanecia com uma expressão de “Exterminador do Futuro”. — Ai, amor, não faz isso comigo...

— Como você espera que eu... — daí, tive uma grande ideia. (Não falei “brilhante” porque alguns lendo isso associariam o termo à “purpurina” e então ligariam essa outra ideia a “gay purpurinado”... Enfim, eu não gosto da palavra “brilhante”!)

— Cara, por que você está sorrindo desse jeito? — ele perguntou se encolhendo.

Na certa eu estava fazendo minha cara de “nerd psicopata juvenil”.

— Só um minuto.

Girei a cadeira, colocando-o sentado de lado no meu colo, de forma que eu pudesse ver a tela do computador. Desconectei o cabo dos fones de ouvido da caixa de som e aumentei mais o volume quando a música começou.

Sorri como um Coringa feliz da vida e levantei-me levando-o junto pela cintura.

Agarrando-se assustado à mim, ele questionou:

— O que você está fazendo?

— Se é pros amassos terem trilha sonora então pelo menos que seja Avenged Sevenfold! Porque Xuxa ninguém merece...

— Eu conheço essa música...

— “A Little Piece of Heaven”.

— Não acredito!

— Pode ir acreditando! Tecnicamente, é a nossa música né?

Deitei-o na cama. Apoiei um joelho do seu lado, debruçando-me para contemplar aquela obra de arte.

— Aquele dia do carro...

— Nunca me esqueço dele. Queria tanto te beijar.

— Por que não beijou?

Finalmente cobri seu corpo com o meu, sentindo-me estremecer quando suas mãos macias acariciaram braços e costas por cima da camisa.

Os lábios quase se tocavam.

— Pensei que você ia sentir nojo de mim. Sempre calculei tudo, não ia perder meu único amigo por conta de um impulso estúpido.

Seus belos olhos negros entravam na minha alma como se eu fosse transparente.

— Agora, pode ser impulsivo o quanto quiser, não é mesmo?

— Acho que sim.

Ia rolar. Até que enfim ia rolar!

Só que...

— ABRE ESSA PORTA, GAROTO! — gritou meu pai do lado de fora do quarto.

Ele congelou debaixo de mim, fazendo uma cara tão apavorada quanto a dos atores dos filmes de Terror B quando são pegos pelo cara da motosserra num beco sem saída.

Respirei fundo de olhos fechados.

Maravilha!

Primeiro era a Xuxa.

Depois o meu pai mala.

O que mais aconteceria depois? Espera, espera... Prefiro nem saber!

Com a minha melhor cara abri a porta (depois de termos nos ajeitado e ele pego algum dos meus livros em cima da mesa, fingindo estar muito interessado na leitura, apesar de certamente ser algo com tantas cabeças sendo decepadas que ele logo largaria o negócio, correndo para a privada).

Lá estava meu pai e sua famosa cara de poucos amigos.

— Está competindo com o vizinho pra ver quem coloca as piores merdas na caixa de som?!

Pensei em dizer: “Pra sua informação, Avenged Sevenfold é bem melhor que esse CD’s de veado que você fica ouvindo, como, por exemplo, Leandro e Leonardo!”, mas contive-me. Afinal de contas, às vezes é melhor você ouvir calado um sermão do que ser obrigado a discutir horas e horas com alguém que realmente não tem mais jeito.

Depois de alguns instantes me dando esporro por causa do som alto, eu disse bem calmamente que iria abaixá-lo. Meu pai deu uma última olhada pra dentro do quarto (mais especificamente para a direção em que ele estava sentado, fingindo ler “30 Dias de Noite”, entretanto encontrava-se visivelmente tenso com a análise do coroa).

— Espero que você e essa bichinha não estejam de veadagem aí dentro — ele disse num tom alto o suficiente para que nós dois escutássemos.

Ergui uma sobrancelha, cético: “Veadagem”? Nós? NÓS?! Como nós poderíamos estar de “veadagem” se ninguém nos deixava em paz, porra?! Eu bem queria estar de “veadagem” com o meu namorado, mas isso estava se tornando uma verdadeira missão impossível!

— Se vocês dois... — ele começou num tom ameaçador, mas como já estava de saco cheio, apenas falei, entediado:

— Desculpa, pai. Tchau, pai.

E bati com a porta na sua cara.

Arrastei-me até a cama e nela me joguei, cobrindo o rosto com um braço.

Ele ainda ficou alguns minutos fingindo ler a história em quadrinhos e apenas quando a música acabou, ousou respirar direito.

— Meu Deus — ele sussurrou, trêmulo.

— Relaxa, ele é um babaca.

— Mas e se...

— “E se” nada! Ele estava só blefando. É um mala, mesmo.

— Ele me assusta.

Bufei. — Fala sério!

— Ele desconfia, cara! — murmurou para mim, apertando a HQ contra os braços, completamente encolhido na cadeira.

Tirei um pouco o braço da frente dos olhos e acabei sorrindo.

— Chamavam meu pai de “olhos de águia” na faculdade, sabia?

— Então acha que ele reparou que nós estamos juntos?!

— Isso eu não sei, mas quanto ao fato de você estar lendo a história de cabeça pra baixo...

Ele arregalou os olhos e olhou para baixo, confirmando o que eu dizia.

— Ai, porra! — exclamou choroso, escondendo o rosto nas mãos.

— Relaxa, isso era na faculdade! Agora ele usa cinco graus em cada olho e pelo visto estava sem óculos...

— Argh! Seu... seu...

Voando pra cima de mim, iniciamos uma breve lutinha, onde eu o deixei ganhar, ficando por baixo de seu corpo menor.

— Eu devia arrebentar essa sua cara, seu cretino! Para de rir!

Gargalhava com vontade, quase chorando, vendo sua cara irritada. Ele apertou meus braços acima da cabeça com força suficiente pra marcar um pouco meus pulsos pálidos.

— Você é um... cretino!

— Eu sei. — parei de gargalhar aos poucos e enquanto recuperava o fôlego, comentei:

— Já que sou um cretino, então você vai me punir, não é?

— Eu... — o rosto dele tornou a ruborizar — Sabe, tudo que sai dessa sua boca parece ter um duplo sentido sexual.

— Por outro lado, precisa-se ter uma mente bem poluída pra ler o duplo sentido sexual nas minhas frases. — retruquei ainda sorrindo. — Além do mais, estamos na minha cama, você em cima de mim, me mantendo preso e submisso... Como é que não se pode lançar uma frase com duplo sentido sexual nessa situação?!

— Idiota!

— Mas você me ama mesmo assim, é eu sei.

Nossas bocas se chocaram com violência. Chegou a machucar um pouco os dentes. Mas na hora nem ligamos. Ele tentou me manter preso mais um tempo, entretanto logo suas mãos me apertavam e arranhavam as costas, braços e barriga. Rolei pela cama e quando paramos de nos beijar, foi possível ouvir um barulho de desentupidor de pia.

Ofegante, ele disse:

— A gente não pode.

— Como assim?

— Não vamos fazer nada! É isso o que eu estou dizendo.

— Tem razão — sem me abalar, afaguei sua barriga macia por baixo da camisa e mordi o pescoço macio e exposto. Até que enfim um pouco de “veadagem”! Apesar de eu me sentir muito homem fazendo tudo aquilo...

— Tá s-surdo? Eu disse que não vamos fazer nada!

— Ouvi com muita clareza. E concordo: “nada” é a última coisa que eu pretendo fazer com você!

— Seu safad...

Língua contra língua de novo. Batalha sem vencedor ou perdedor.

Paramos mais uma vez quando ele me empurrou.

— Amo você.

Sorri.

— Eu também. Tenta não gemer muito ou o meu pai é capaz de invadir essa porra com uma bazuca na mão.

— Você é um filho da puta mesmo!

— Fazer o que né?

///

No meio da noite, acordei, sentindo seu corpo semi-nu abraçado junto ao meu. Levantei-me um pouco, com receio de acordá-lo, acendendo o abajur que comprara por conta de um estranho medo seu do escuro. Tornei a deitar, acariciando com o indicador sua bochecha macia.

Os olhos negros estavam fechados, os longos cílios roçando nas bochechas.

Seu semblante era o mesmo que de uma criança ao dormir.

Beijei seus lábios suavemente, sorrindo: desenho? Quem precisava de um desenho quando eu tinha o modelo de carne e osso ali do meu lado?

Ele se remexeu após aquele breve contato, deitando sua cabeça no meu ombro, ainda adormecido. Sorri, fechando os olhos e o abraçando.

“A suprema felicidade da vida é ter a convicção de que somos amados.”

— Victor Hugo