segunda-feira, 16 de agosto de 2010

The Raven Song - Capítulo 1

Capítulo I: Depois do Fim (06/08/10)

— Em que você está pensando? — questionou gentilmente o homem de pele morena e olhos negros amendoados. O cabelo preto fora cortado bem rente à cabeça. Os músculos do peitoral reluziam por causa do suor; estivera treinando a manhã inteira, afinal.

Raven tirou os olhos surpreendentemente claros da janela em que podia ver o céu cor dos restos de cinzas mortas de uma fênix que jamais ressuscitaria para voar. Giovanni estava recostado contra a porta do banheiro, encarando-o fixamente daquele jeito que às vezes o incomodava. Sem se abalar, entretanto, ele ergueu-se na banheira de latão e mesmo estando completamente nu, caminhou na direção do outro sem vergonha alguma.

O hispânico abriu espaço para que ele passasse, observando deliberadamente os cabelos negros picotados do amigo pingarem por causa da água.

— Gostava quando você usava cabelo comprido — disse de repente, sem medir suas palavras (como quase sempre o fazia). — Parecia...

Eu parecia uma garota! — cortou rispidamente o mais velho, denunciando que sua voz podia ter ficado mais grossa, entretanto permanecia espectral. Passou a toalha pelo rosto para em seguida enrolá-la na cintura esguia. — Além do mais, aquilo denunciava quem eu era...

— Sim... Talvez tenha razão, Rae-Rae.

Eu tenho razão, Giovanni. Não creio que ainda não tenha aprendido isso.

— Claro que aprendi, Rae-Rae. Depois de tantos anos, não há como não aprender.

Novamente, aqueles olhos negros o encurralavam contra a parede. Quase vinte anos encarando aqueles malditos olhos, mas eles permaneciam com um encantamento místico que o fazia lembrar-se sempre do passado. Antes que ele, Raven, o conhecesse. Antes que ele passasse a se “comportar bem”, pois precisava ser o exemplo daquele pequeno espanhol de fala tenebrosamente sincera.

Mas, daquela vez, lembrou-se de um período depois que havia conhecido-o.

— Como seu cabelo é bonito, Rae-Rae! — exclamara o menino de 9 anos enquanto Raven fazia abdominais no chão da cabana que haviam encontrado.

O que?

— Eu disse que gosto do seu cabelo!

Isso eu ouvi. Porém não gosto que me chame desse jeito, sabe disso! Eu tenho um nome e ele existe para ser usado. Entendeu bem, moleque?

— Meu nome é Giovanni! — ele ergueu-se da cama irritado pela forma fria com que o outro o tratava. Impulsivamente, sentou ao lado de onde Raven estava se exercitando e pôs-se a resmungar: — Você reclama que eu não te chamo pelo nome, mas você faz a mesma coisa comigo! Por que precisa ser tão malvado comigo, Raven? Você sabe que eu te amo...

O mais velho parou no meio de uma abdominal e o encarou. Seu físico ficara mais musculoso agora aos 15 anos. O cabelo alcançava a cintura, sedoso e delicado, exalando um perfume surpreendentemente bom de cravos. Cravos como os que se coloca nas lápides dos homens bons que morrem em guerras sem sentido...

Eu também te amo, Giovanni. — sussurrou sentando-se de frente para o menino. Com delicadeza, bagunçou seus cabelos. — Você é o meu irmãozinho.

— Jura?

Juro.

— Promete que nunca vai me deixar sozinho?

As promessas quase sempre são feitas sem serem cumpridas no final, mas vou prometer. Mesmo assim, acredito que no final você é quem vai me largar para poder ficar com suas namoradas...

— Trocar você por garotas? Eca! Você bebeu hoje de manhã, Rae-Rae? Garotas não sabem nada de luta e estão sempre com medo de quebrar as unhas!

Mais respeito, garoto! — apesar de parecer sério, porém, Raven agarrou o menino com uma chave de pescoço e começou a bagunçar freneticamente seu cabelo escuro — Um dia você vai me mandar pastar só pra ficar sozinho com garotas. Vai por mim, eu sei das coisas.

— Mas você nunca me largou pra ficar com garotas!

— É... diferente.

— Por que?

— Porque... Porque eu não quero, ok?!

Ele o largou e reiniciou suas abdominais, parecendo ignorá-lo.

Rae-Rae? — chamou inocentemente o menino.

Raven suspirou e tornou a interromper sua sessão de exercícios, sentando com um joelho dobrado próximo o peito.

— O que foi, Giovanni?

— Você fica triste por ser um Nevasca?

Os olhos negros e os claros se encontraram por uma fração de segundo antes de tornarem a se desviar.

Não.

— Está mentindo.

Talvez.

— Eu queria ser humano...

— Mas você é humano!

— Eu não sou e você sabe disso, Raven!

Então, Giovanni aos 9 anos havia levantado e ido para a cama aos soluços, cobrindo a cabeça com uma colcha de retalhos. Raven aos 15 anos (porém nem por isso menos paciente), havia sentado na cadeira de frente para a cama do menino e aguardado...

Aguardado que ele chorasse todas as mágoas.

E quando finalmente isso aconteceu, ele sentou na cama com a cabeça descoberta e abraçou Raven, seu primeiro e único melhor amigo.

— Desculpe por ter gritado com você... — murmurou de encontro o peito pálido do mais velho.

— Tudo bem, baixinho. Eu entendo o que você está sentindo.

— Você é a melhor pessoa do mundo, Rae-Rae.

— Não... Felizmente eu não sou, baixinho...

...Porque geralmente os bonzinhos só se fodem.

Raven? — o rapaz tornou a chamá-lo enquanto ele se vestia. Seu tom era alarmado.

— O que foi, Giovanni?

— Você escutou isso?

— Isso o...?

Entretanto, a pergunta foi interrompida pelo barulho da porta do quarto sendo arrancada violentamente de suas dobradiças.

Não houve tempo para reação por parte do homem pálido: o mundo já estava perdendo sua luz e metamorfoseando-se em trevas.

E às vezes até os monstros caem do topo de seus castelos arruinados e destruídos...

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